Vamos ao desta semana!
Essa semana o Jorge Furtado lançou seu primeiro longa dramático no Festival de Gramado (Real Beleza), ele concedeu alguns entrevistas para os jornais locais e uma delas falou sobre o momento em que terminou o roteiro e ele era pequeno demais, achava até que não ia conseguir fazer porque na comédia é mais fácil cronometrar o tempo e já no drama há menos falas e mais cenas e silencio. Foi surpreso porque pensei "nossa! o Jorge Furtado com esse problema" um problema costumeiro pra mim porque estou sempre cronometrando tempo e analisando se no total o longa não estoura o tempo ou é pequena demais. O que você pode falar sobre o assunto?
Jeferson Rodrigues
Fala, Jef!
Minutagem é uma coisa complicada. Porque na teoria 1 página na formatação "Hollywood standard" equivale a 1 minuto. Mas na prática nem sempre é assim. O roteiro do clássico "Eraserhead" (1977), do genial David Lynch, por exemplo, tem 20 páginas e duração de 1h49 minutos! Mas, no caso, trata-se de um filme super não-ortodoxo, "cabeça"(ha! foi inevitável a piadinha), no qual faz sentido longuíssimas pausas que não conseguem ser quantificadas fidedignamente no papel. Imagino que os roteiros do Wong Kar Wai, do Apichatpong Weerasethakul (e basicamente todo o cinema oriental contemporâneo) sejam a mesma história: pouca página, muita duração.
No entanto, fora estes casos - ou seja, em geral; pois os supracitados são flagrante minoria no mundo do cinema - embora uma ou outra pausa possa ser maior, a formatação costuma equalizar tudo e no máximo apresentar margem de erro, pra cima ou pra baixo, de 5 minutos. Portanto me bate meio estranha essa história do Jorge Furtado. Não assisti "Real Beleza" e tampouco li os roteiros (o curto e o filmado) para avaliar com propriedade, mas levando em conta tudo que expliquei, me parece que o que causou essa escassez de páginas para ele foi algum problema na estrutura do seu roteiro.
Porque se você seguir os beats clássicos de um roteiro o que acontece mais frequentemente é o inverso; você estar muito longo, tendo que eliminar as gorduras e concentrar mais a sua trama. Parece-me que este problema de "seca" só ocorreu porque, pelo menos neste primeiro momento, ele não construiu sua história à partir de uma estrutura clássica. Aquela estrutura de 3 atos, mundo comum, tra la la, testada e provada há mais de 100 anos. E tudo bem, é o Jorge Furtado, acho que ele tem a moral pra tentar fazer do jeito que ele quiser. Ele fez "Ilha das Flores"!
Não sei como ele resolveu; se obteve sucesso procurando uma nova estrutura (acredito que não, pois o mundo todo estaria comentando que alguém descobriu uma nova forma), se ele obteve sucesso (re)enquadrando sua história na estrutura clássica ou se ele tentou encher linguíça/criar coisas paralelas (e fatalmente não obteve sucesso narrativo) para alcançar a minutagem certa. Mas agora deu até vontade de ver!
Valeu pela pergunta diferente, Jef!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPois é, confesso que também fiquei curioso. Normalmente, quando você abre o argumento (ou a sinopse) na escaleta, já dá pra ter uma boa noção do tamanho do projeto. Ou, do problema... E quase sempre, como você colocou, é preciso cortar. Mas... como é o cara que trouxe "Houve uma Vez dois Verões" (melhor dele na minha opinião), "Meu tio matou um Cara" e "O Homem que Copiava", além do clássico "Ilha das Flores"... só vendo mesmo...
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