BRAINSTORM: Ausência

By Eduardo Albuquerque - 4/16/2015




Venho trabalhando em um projeto e volta e meia tem surgido uma noção - correlata apenas; não pertencente de fato à idéia -  que vem me fazendo pensar muito e jogo aqui pra vocês: como representar a ausência?

Num sentido amplo mesmo... sem querer parecer poético, mas a ausência é uma das presenças mais marcantes em nossas vidas. Se julgo que um bom roteirista representa emoções através de ações, de sequenciamento de ações que colocam nossos personagens em situações onde eles mostram como se sentem ao invés de contar como eles se sentem... como vamos retratar algo que é interior, imaterial e em última instância nem está ali?

Ish...

O mais utilizado recurso, tenho pensado, é o de mostrar o personagem em duas linhas paralelas: a atual, onde ele sente falta de algo/alguém e a pregressa, onde algo ou alguém ainda está na vida do personagem. Desta forma, por paralelismo (ou simples subtração), você entende a "falta" que faz aquilo na vida da pessoa.

Mas isso aqui é Brainstorm e não SOS Roteirista, então não estou interessado em o que é e sim o que pode ser. Será que não temos outro jeito? Será que conseguimos mostrar a ausência sem a presença em tela de algo/alguém? Ou a ausência é algo que só existe à partir da presença de algo/alguém?

Metafísico? Sim, sempre. Mas até outro dia o azul não existia, era ausente. Então, por que não a mesma coisa neste assunto? Como mostrar (sem apenas botar na boca do personagem) a ausência de algo/alguém sem ver a presença do(a) mesmo(a)?

Alguém? Alguém? A ausência de comentários como forma de demonstração não terá a menor graça, galera!

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4 comentários

  1. Fico encucada com seu questionamento. "Ou a ausência é algo que só existe à partir da presença de algo/alguém?" A ausência só existe a partir da presença de algo/alguém, como a saudade. Mas também como a saudade, sinto que sentimos falta também daquilo que não tivemos ou quase conseguimos. De como éramos, de como desejávamos. A saudade bate fundo, e nos acompanha, quando traz junto alguém, uma situação, um gosto, um cheiro.
    Com essa introdução toda, penso no seu questionamento de levar pra tela a ausência sem mostrar a presença de algo ou alguém. Sim. É possível. O caminho é definir de quem ou de que esse personagem sente falta pra podermos definir a presença anterior.
    Ao invés do recurso da fala de alguém lembrando ou de um flashback, uma possibilidade é mostrar essa presença em objetos, ações, sons, cheiros. Fotos, esculturas, quadros, poltrona, tatuagem, pulseira (algum adereço). Quem sabe alguma tradição (ver fogos, assistir algum jogo, preparar algum prato), ou cantarolar alguma música, contar alguma piada, ditado... Ações ou coisas desse tipo fazemos o tempo todo na tentativa de manter algum resquício de algo ou alguém. Ou simplesmente pra registrar a presença. Mesmo na ausência. Na realidade é assim que somos formados. E é assim também que podemos conceituar a eternidade.
    Esse seu questionamento junto com o meu café preto, animaram minha manhã. Até.

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    Respostas
    1. Eu concordo com a Elizabeth. Um roteiro nada mais é que uma historia contada por meio de imagens, trabalhamos com letras logico e com diálogos, mas eles são superficiais dentro de um roteiro bem escrito e por muitas vezes alterado pelo ator. O roteirista deve pensar em imagens, contar a historia por meio delas e nada mais pratico que inserir a presente de alguém ausente por meio de imagens, objetos, sons, e tudo isso comentado pela Elizabeth.
      Jeferson Rodrigues

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    2. Fala, Elizabeth! Somos parentes distantes, também sou Caldas!
      Que bom ver que este brainstorm coçou suas idéias; esta é a finalidade dele mesmo. Bagunçar os Ticos e Tecos.

      Suas soluções foram muito legais e coçaram os MEUS ticos e tecos =)
      Assim que é bom.

      Volte (e comente) sempre!

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  2. Legal. Acho que é possível sim, principalmente pelo comportamento. O personagem tem "manias" ou evita algumas situações no seu presente. Ou ainda, é errático, sem "rumo físico" definido, mas em seu pensamento (e no roteiro, em suas ações), mostram que algo (ou alguém) faz falta. Uma alteração repentina na postura, pode, obviamente, indicar um trauma, ou uma falta, uma ausência incômoda. Mas acredito, na maioria das vezes, em suas ações e reações frente a novas (aparentemente novas) experiências. Valeu!

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