Q&A

Q&A 14/08/2015

By Eduardo Albuquerque - 8/14/2015

Todas as sextas-feiras eu respondo perguntas enviadas pelos leitores do blog. Se quiser me mandar uma, acesse este link e aperte enviar (ou tente nos comentários!).

Vamos ao desta semana!

Essa semana o Jorge Furtado lançou seu primeiro longa dramático no Festival de Gramado (Real Beleza), ele concedeu alguns entrevistas para os jornais locais e uma delas falou sobre o momento em que terminou o roteiro e ele era pequeno demais, achava até que não ia conseguir fazer porque na comédia é mais fácil cronometrar o tempo e já no drama há menos falas e mais cenas e silencio. Foi surpreso porque pensei "nossa! o Jorge Furtado com esse problema" um problema costumeiro pra mim porque estou sempre cronometrando tempo e analisando se no total o longa não estoura o tempo ou é pequena demais. O que você pode falar sobre o assunto?

Jeferson Rodrigues

Fala, Jef!

Minutagem é uma coisa complicada. Porque na teoria 1 página na formatação "Hollywood standard" equivale a 1 minuto. Mas na prática nem sempre é assim. O roteiro do clássico "Eraserhead" (1977), do genial David Lynch, por exemplo, tem 20 páginas e duração de 1h49 minutos! Mas, no caso, trata-se de um filme super não-ortodoxo, "cabeça"(ha! foi inevitável a piadinha), no qual faz sentido longuíssimas pausas que não conseguem ser quantificadas fidedignamente no papel. Imagino que os roteiros do Wong Kar Wai, do Apichatpong Weerasethakul (e basicamente todo o cinema oriental contemporâneo) sejam a mesma história: pouca página, muita duração.

No entanto, fora estes casos - ou seja, em geral; pois os supracitados são flagrante minoria no mundo do cinema - embora uma ou outra pausa possa ser maior, a formatação costuma equalizar tudo e no máximo apresentar margem de erro, pra cima ou pra baixo, de 5 minutos. Portanto me bate meio estranha essa história do Jorge Furtado. Não assisti "Real Beleza" e tampouco li os roteiros (o curto e o filmado) para avaliar com propriedade, mas levando em conta tudo que expliquei, me parece que o que causou essa escassez de páginas para ele foi algum problema na estrutura do seu roteiro.

Porque se você seguir os beats clássicos de um roteiro o que acontece mais frequentemente é o inverso; você estar muito longo, tendo que eliminar as gorduras e concentrar mais a sua trama. Parece-me que este problema de "seca" só ocorreu porque, pelo menos neste primeiro momento, ele não construiu sua história à partir de uma estrutura clássica. Aquela estrutura de 3 atos, mundo comum, tra la la, testada e provada há mais de 100 anos. E tudo bem, é o Jorge Furtado, acho que ele tem a moral pra tentar fazer do jeito que ele quiser. Ele fez "Ilha das Flores"!

Não sei como ele resolveu; se obteve sucesso procurando uma nova estrutura (acredito que não, pois o mundo todo estaria comentando que alguém descobriu uma nova forma), se ele obteve sucesso (re)enquadrando sua história na estrutura clássica ou se ele tentou encher linguíça/criar coisas paralelas (e fatalmente não obteve sucesso narrativo) para alcançar a minutagem certa. Mas agora deu até vontade de ver!

Valeu pela pergunta diferente, Jef!

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2 comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Pois é, confesso que também fiquei curioso. Normalmente, quando você abre o argumento (ou a sinopse) na escaleta, já dá pra ter uma boa noção do tamanho do projeto. Ou, do problema... E quase sempre, como você colocou, é preciso cortar. Mas... como é o cara que trouxe "Houve uma Vez dois Verões" (melhor dele na minha opinião), "Meu tio matou um Cara" e "O Homem que Copiava", além do clássico "Ilha das Flores"... só vendo mesmo...

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