Os documentos de um longa: Beat Sheet

By Eduardo Albuquerque - 3/03/2015



Dificilmente um roteirista senta e escreve de cara um roteiro. Antes disso, na maioria das vezes, ele escreve outros documentos próprios e anteriores ao roteiro final. Por dois motivos (i) seria amadorismo; 9 vezes em 10, passar por cada um desses documentos deixa o resultado final melhor e (ii) profissionalismo; como o cinema é um esporte coletivo as outras pessoas integrantes do projeto (produtores/diretores) precisam entender o filme que você está fazendo para que eles tenham a segurança de que é o mesmo filme que eles desejam.

Nesta série de 4 posts, falarei sobre cada um dos documentos. Hoje é a vez do Beat Sheet.

Eu adoro Beat Sheet, pois é o primeiro momento que você de fato vê a disposição criativa própria a um filme. Aqui é pura linguagem cinematográfica, é estrutura narrativa de um roteiro de cinema. Você tem todos os pontos de trama colocados no papel em ordem lógica. Todos os “clichês” obrigatórios da estrutura de 3 atos, que fazem um filme andar.

O Beat Sheet pode ser lido por Produtores e Diretores no desenvolvimento do filme, mas raros o pedem. Argumento e Escaleta é o suficiente em geral. De certo que não é pedido para fins oficiais (editais etc.); a verdade é que muita gente aqui no Brasil nem sabe da existência do Beat Sheet. Todavia, acredito que, mesmo que seja para os seus olhos apenas, fazê-lo é muito importante. Diria que é o mais importante de todos os documentos (depois do Tratamento, é claro).

Em geral eu uso o método de Beat Sheet do Blake Snyder (Save the cat!), o BS2. Mas às vezes incluo uma denominação diferente, por achar que faz mais sentido. O ideal é ter bem definido, independente de qualquer coisa, os principais beats ali. São eles, para mim: Setup, Catalisador, Fun and Games, Midpoint e All is Lost. A soma dos três primeiros é o filme em si. É basicamente o que está escrito na sinopse no jornal, o que você responde quando um amigo pergunta sobre o que é o filme; e é o que vai fazer as pessoas o assistirem. O Midpoint e All is Lost é o que você responde (sem dar o final) quando, após você explicar o que é o filme, a pessoa perguntar “wow, mas e aí, o que acontece?”.

Os outros são muito importantes pra você, mas pelo menos em minha experiência própria – pode variar, pessoas tem predileção por outras áreas, suas cabeças funcionam de forma diferente – eles costumam vir com o processo. Finale você geralmente só vai encontrar o formato final nos seus últimos tratamentos. Opening e Closing Image são mais bônus do que qualquer coisa; um filme pode sim se sustentar sem eles. Theme (Stated) é muito importante, mas, comigo pelo menos, por mais que eu tente determinar de antemão, acabo no meio me dando conta que “não era bem isso e sim aquilo”. Debate e Dark Night of the Soul eu vejo como beats acoplados a outros: Theme Stated/Catalisador/Break into 2 para o Debate e All is Lost para o DNotS. Então, só à partir da definição destes que aqueles acabam se adaptando e pegando a melhor forma. Os Breaks (Into 2 e 3) seguem a mesma lógica, mas por serem pontos de trama certeiros, ainda mais logicamente acoplados respectivamente ao Catalisador e ao Finale, preencho-os quase como formalidade, pra constar. Humildemente, me parece redundância a existência deles. Talvez seja ignorância minha, mas às vezes dou de ombros pra estes dois beats, confesso.

Masterize o Beat Sheet. Tendo ele nota 10, seu roteiro sairá com nota de partida 8. Bastará colocar boas vozes e bons diálogos para que seu roteiro fique show. É no Beat Sheet que você vai virar um bom escritor de filmes e não apenas um bom escritor.

Índice da série "Os documentos de um longa":
Parte 1: Argumento
Parte 2: Beat Sheet
Parte 3: Escaleta
Parte 4: Tratamento

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9 comentários

  1. LEGAL, MAS VOCÊ FEZ O POST PRA VOCÊ MESMO.

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  2. Respostas
    1. Fala, Celso!
      Nesse post aqui eu dissequei o Beat Sheet>> http://www.saladosroteiristas.com.br/2015/10/beating-shit-out-of-beat-sheet.html

      Dá uma olhada lá

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  3. De boa, ter o dom da comunicação é saber se fazer entender. Parece que vc criou esse post para quem já conhece o tema. Vc precisa entender que há pessoas que estão iniciando agora, assim como vc um dia iniciou e teve que aprender todas essas coisas. Então não adianta vc citar um monte de coisa sem explicar o que elas significam, porque fica todo mundo boiando.

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    1. Quando eu tinha que "aprender todas essas coisas" eu não perdia meu tempo sendo intitulado e reclamando de conteúdo de graça ao qual ninguém me obrigara a ler. Eu era grato ao que tinha disponível e gastava toda minha força procurando bons materiais e me esforçando um pouco pra entendê-los.
      No seu caso bastava ler os comentários ou usar o google pra achar nesse site mesmo o post que atende tudo o que você, de maneira muito intitulada, reclama em seu comentário >> http://www.saladosroteiristas.com.br/2015/10/beating-shit-out-of-beat-sheet.html


      muda isso aí senão, pode ser o mais talentoso, mas não vai longe.

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  4. Muito bom seu conteúdo. Me ajudou a esclarecer algumas dúvidas e me fez reler mais uma vez Save the cat. Obrigado pelo material!

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  5. Um dúvida: se eu tenho 3 histórias num longa (A, B e C), cada história recebe a estrutura do Beat Sheet? Como colocar essas histórias secundárias dentro deste paradigma? Através de elipses, cruzando com a trama A?

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