Cinema: esporte coletivo

By Eduardo Albuquerque - 1/27/2015



Amigo Roteirista; o quanto antes você entender que o cinema (e o audiovisual em geral) é uma atividade coletiva, melhor pra você. Para que você não se lamente, como já ouvi de muitos colegas, dizendo da decepção quando viu o primeiro corte de um filme feito à partir do seu roteiro.

Essa é a natureza do jogo. Estamos falando de um produto que não vai custar menos de 1 milhão pra ser feito. Que vai envolver, no mínimo, umas 30 pessoas na produção daquilo. Fora a questão de que “shit happens”; chove num dia que não deveria chover, algum equipamento falha quando não devia... algo muda no mundo “real” que é refletido no seu filme.

E você não pode controlar o mundo real.

Eu sei, você pensou a parte inicial, fez tipo Chico Cesar e quando não tinha nada, você quis... mas se você planta a semente; tem uma porrada de gente pra regá-la. E isso pode ser bom, permita-se a boa surpresa!

Também entendo que tem muita gente que não se satisfaz em contribuir com o que lhe cabe. Ô se entendo. Também sei bem que você passou MESES (senão anos!) pensando holisticamente a obra, e é foda alguém que está pensando aquilo há 2 semanas - e geralmente com uma visão exclusiva à apenas uma parte da coisa - vir e mudar algo. Mas, de novo, é parte do jogo.

O Audiovisual no Brasil não é uma indústria regida por processos. É um jogo mental muito mais focado em ego e poder do que em argumentação criativa. Você lida com muita gente carente, que - diferente de você, que não vai se dar ao luxo - se vê como artista. E muito provavelmente, devido ao menosprezo geral da figura do roteirista (não acredite nesse papo de “precisamos de mais roteiristas”), essas pessoas são mais “poderosas” no meio do que você. Então, mantê-los interessados e engajados no seu roteiro é do seu interesse. Não se apegue. Dê uma vitória ou outra. Até porquê; se está rolando esse dilema, significa que você ainda está no loop!

E isso não é ser acomodado não; vai por mim. Uma vez, num set de filmagens, ouvi um tarimbado produtor dizer, piscando o olho, super cúmplice: “geralmente eu não deixo o roteirista pisar no set não, hein?”. Sim, é triste e idiota o comentário, mas é um bom demonstrativo de como o roteirista é tratado por aqui.

Repito: o cinema no Brasil não é uma indústria. Se fosse, seria mais pragmático. Respeitaríamos mais hierarquia; cada um cuidaria do seu. O objetivo seria ganhar dinheiro e com isso egos diminuiriam... pelo menos da porta do trabalho pra dentro. Na minha opinião seria melhor e luto para que isso aconteça, pois no final do dia; isso é meu trabalho e não meu sonho.

Portanto, escreva com paixão! Comprometa-se com uma visão de filme para escrever o seu melhor roteiro! Mas uma vez que você escreveu o último FADE TO BLACK. abra-se à mudanças. Elas não são inevitáveis apenas para o seu protagonista; para você também.

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