Dicas de Rewrite (II)

By Eduardo Albuquerque - 8/12/2015


 

Expliquei por alto os documentos pelos quais você passa na hora de escrever um roteiro de longa-metragem, mas na parte final, o Tratamento, a pincelada foi especialmente branda e isso se deu pois, na verdade, tem muita coisa que você pode fazer nesta etapa.

Uma delas - primordial e algo que ainda tenho que aprender a fazer com mais veemência - é primeiro IDENTIFICAR e SEPARAR o que está funcionando e o que não está funcionando no seu roteiro para, depois, PROTEGER o que está funcionando para que não seja perdido ou cortado por conta das coisas que serão cortadas ou mudadas.

Parece trivial; mas não é.

O roteiro é um corpo composto por várias partes (sequências, cenas, diálogos...) e às vezes sabemos onde está o problema, mas é difícil de apontar exatamente qual é o problema. E aí damos remédio para febre quando o problema na real era apenas uma dor de cabeça. Ou então, indo na outra direção mas continuando na metáfora do corpo, temos que tomar cuidado para, ao ver um problema no cotovelo, não amputar o braço todo: as unhas estão tão lindas; seria uma pena perdê-las...

Macabra demais a analogia?

A genial Jane Espenson, uma das minhas roteiristas preferidas, descreve o ato como "on the plastic" ou "laying down plastic" e faz muito sentido. Ela diz que usa-se esse termo pras cenas que provavelmente vão acabar cortadas; uma metáfora com o cara da máfia que é chamado para uma reunião e ao chegar ao local, percebe que o chão já tá todo cheio de plástico. É gênio, porque não apenas sugere que a cena (e o cara da máfia) vai morrer, mas que também coisas ao redor (diálogos ou whatever) tem de serem protegidos do sangue e outros danos advindos da matança.

Esta última parte, de proteger o que está ao redor, é o que me interessa mais. Acabamos sempre valorizando os problemas - instinto de sobrevivência purinho - e deixando de lado o que dava certo. Isso não nos ajuda como roteiristas. Temos que melhorar o que está ruim, mas NUNCA perder de vista o que está bom. Do que adianta consertar algo se ao fazer isso você está quebrando todo o resto?

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2 comentários

  1. Olá Eduardo. Te envio uma pergunta pra sexta, que pode virar um post futuramente hehehe.
    Essa semana o Jorge Furtado lançou seu primeiro longa dramático no Festival de Gramado (Real Beleza), ele concedeu alguns entrevistas para os jornais locais e uma delas falou sobre o momento em que terminou o roteiro e ele era pequeno demais, achava até que não ia conseguir fazer porque na comédia é mais fácil cronometrar o tempo e já no drama há menos falas e mais cenas e silencio. Foi surpreso porque pensei "nossa! o Jorge Furtado com esse problema" um problema costumeiro pra mim porque estou sempre cronometrando tempo e analisando se no total o longa não estoura o tempo ou é pequena demais. O que você pode falar sobre o assunto.

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    1. Já respondi lá, Jef : http://www.saladosroteiristas.com.br/2015/08/q-14082015.html

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