Dica de (Re)Write

By Eduardo Albuquerque - 9/01/2015




Perceberam o parênteses no "Re"? Pois é, não é uma continuação da série de posts "Dicas de Rewrite"(I e II), mas foi inevitável, vocês sabem como eu sou; adoro um trocadalho do carilho.

Este post até se aplica de leve ao momento de re-escrever tratamentos (assunto da série de posts supracitada), mas o cerne é o momento que você está escrevendo o primeiro tratamento e é uma coisa que parece boba, mas, se for seguida, te poupa muito tempo e dor de cabeça:

Escreva do início ao fim.

Não significa que você tem que escrever na ordem linear (eu só faço assim, pois só funciono assim, mas muita gente faz tranquilamente fora de ordem, tipo "cena x, depois cena b, depois cena z e cena a"), mas o que estou dizendo é para você nunca re-escrever seu próprio trabalho.

Esmiuçando: nunca escrevemos numa tacada só, né? São 110 páginas! Só um maluco faria isso (e um maluco genial, porque a chance de ficar bom é pífia). Então, quando sentamos pra começar de onde paramos, damos aquela lida muito importante no que já fizemos para continuar. É vital que, ao fazer isso, não sentemos e "umn, essa fala que já escrevi não tá legal... vou trocar isso", pois senão você não vai acabar nunca.

"Mas, Dudu, você tá falando então que escreveu, tá escrito e fim de papo?!"

Não, de jeito nenhum. Mas você escreveu, da melhor maneira que você podia naquela hora e tem que deixar pra trás. Quando chegar ao fim do roteiro e não houver mais cenas para serem escritas, aí sim, você volta e começa a melhorar essas coisas que você não curtiu quantas vezes for necessário, até considerar o tratamento como "fechado" e pronto pra ser entregue.

Isto é uma questão tanto prática (tempo é dinheiro e, tomara!, terá gente te cobrando a entrega do trabalho) quanto piscológica. É um longo trabalho e precisamos conseguir contabilizá-lo até pra ter tesão em continuar. Ficar avançando uma página por dia e refazendo as 3 anteriores não é sadio. É o inverso do "dar um passo pra trás pra dar dois pra frente". Na hora de escrever o roteiro só há uma direção: "para o final". Depois você volta, re-escreve, faz o seu melhor, fecha e segue em frente - mesmo que o "seguir em frente" seja voltar  à primeira página e refazer tudo de novo. Mas quando você estiver lendo pra recapitular; é leitura apenas. Não é hora de duvidar do seu trabalho. Até porque a sua própria análise de que o escrito está bom ou ruim não tem como ser completa, pois você não sabe o que vem em seguida, então é apenas perda de tempo; vai por mim.

Acho que a imagem do post é muito feliz, pois na analogia da estrada que você tá pintando, se o pincel voltar pra trás, vai atropelar o maluquinho (que no caso é você).

Leia pra entender o que já foi feito. Escreva o seu melhor para continuar de onde parou. Chegou ao fim? Repita todo o processo até achar que o que está nas páginas é o melhor que você consegue fazer (ou até você não aguentar mais trabalhar naquela coisa).

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1 comentários

  1. uma escala de trabalho do tipo: escrever, ler e reescrever
    particularmente eu não tenho esse problema de parar no meio do tratamento para refazer porque trabalho muito na escaleta e começo e vou até o fim porque tenho uma direção a seguir.
    Depois vem a leitura completa e reescrever, duas fases diferentes do processo de produção. O que - para mim - não é legal, acho trabalho chato é justamente reescrever (que é a parte mais importante) e confesso que preciso desenvolver técnicas para que essa parte seja prazerosa e importante.
    Quando me perguntam, porque quer trabalhar como roteirista, a reposta é sempre a mesma. Porque gosto de criar historias, essa é a parte que dá mais prazer, mais tesao em trabalhar assim como o médico em operar, o advogado em defender, o engenheiro em projetar, mas como toda profissão tem a parte ruim, a parte burocrática, e o processo de reescrever não há criação e sim analisar o que - como diz o Eduardo - o que serve e o que não serve. é um processo cirúrgico e acredito que os roteiristas que dominam essa parte terminam com obras primas.

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