Q&A

Q&A 15/04/2016

By Eduardo Albuquerque - 4/15/2016

Todas as sextas-feiras eu respondo perguntas enviadas pelos leitores do blog. Se quiser me mandar uma, acesse este link e aperte enviar (ou tente nos comentários!).

Vamos ao desta semana!

Ola Eduardo! Parabens pelo projeto que conseguiu tocar de ator e agora roteirista. Eduardo, o ator que sempre gostei no cinema, Sylvester Stallone, em seu primeiro filme ("Rocky, o lutador"), dirigido e escrito por ele, ganhou um Oscar. Mas, segundo as criticas, dizem que o ator Stallone faz um tipo homogêneo!! Não constroi personagem; ele é único e coloca a sua própria rigidez no personagem!! Qual sua crítica?

um abraço,
Falcao

Fala, Falcão
Obrigado!

A crítica está certa. Sly, realmente, não tem uma amplitude de atuação; costuma ser sempre "ele". Mas não tem nada de errado nisso. Há uma divisão entre "character actor" e "personality actor", onde o primeiro são aqueles atores que são verdadeiros camaleões e se transformam nos personagens (pense Gary Oldman, Johnny Depp, Daniel Day Lewis...)  e o segundo é um ator que faz o personagem virar ele (pense Morgan Freeman, o próprio Sly...).

Não significa que o ator não está atuando. Claro que está. Mas não há um esforço gigante por parte dele em tentar ser mais o personagem do que ele próprio, alterando a voz ou o jeito de falar, alterando linguagem corporal etc. Ele empresta sua personalidade, suas idiosincrasias (as quais, como público, amamos) para aquele personagem, enquanto o character actor sai do seu caminho para "canalizar" uma nova pessoa.


Há alguns que cruzam essa linha volta e meia; possuem uma persona forte e reconhecida, mas de vez em quando se embrenham num personagem que lhe dá espaço para mergulhar profundamente numa coisa diferente de si e aí viram outra pessoa (Jim Carrey, Samuel L. Jackson, Tom Cruise...). Até trazendo um pouco pro campo deste site (mas sem problemas perguntar sobre coisas da minha época de ator ou qualquer outro assunto; eu curto!) eu acho que, no final das contas, o determinante para essa colocação de atores em "categorias" se dá muito pelo roteiro. Existem algumas histórias e personagens que te dão possibilidade de testar uma voz diferente, de buscar trejeitos peculiares  e outros que não, não cabe, fica estranho, chama atenção demais, desnecessariamente, atrapalhando o entendimento do "todo" em detrimento de um capricho de ator que "over-act".

É verdade que o ator que fica estigmatizado como "personality actor" o faz um pouco com a ajuda de uma galera; a culpa é de todos (do próprio ator, que não busca personagens diferentes, do produtor, que insiste em fórmulas porque $$$ e também do público, que, em sua maioria, não se entrega e refuta logo o que desconhece). Já a solução é de apenas uma pessoa: o próprio ator. Se essa recorrência de um tipo de personagem o incomodar e ele bater o pé e buscar alguns personagens diferentes, vão acabar enxergando-o com outros olhos que não os viciados, pois o produtor vai preferir arriscar com ele do que não ter ele at all e o público, no final das contas, vai assistir o que quer que seja, contanto que seja bom e valha o ingresso.

No final das contas, entendo a separação em categorias - é assim que nós, como sociedade, conseguimos entender as coisas; comparando, classificando... - mas acho que, no fundo, no fundo, TODOS os atores são "personality actors". É por isso que os contratamos. Por mais que eles tentem suprimir o que é "pessoal" deles, sempre sobra o que é a "alma" deles; ela fica ali colada nos personagens. Não existe ator bom o suficiente para se suprimir por completo. Escalam o Christopher Walken como excêntrico porque o ator é sim excêntrico, ué. Mesmo que na real ele seja normalzão, ele tem uma aura esquisita. Os mal-encarados idem. Eles tem um exterior grosso. É inconsciente, fazemos isso na vida normalmente. Nós, como roteiristas, fazemos isso na hora de escrever. Escrevemos pensando nestes tipos. No fundo buscamos a real "personality" destes atores. Até mesmo esses que são "character actors" e se morfam; é isso que gostamos deles. A imprevisibilidade é a sua constante, a sua "personality". É aquela velha história do Ruído Branco, um som que tanto soa ininterruptamente que o cérebro o abstrái e vira "silêncio".

PS: Por favor, me diz que você é "Falcão" por causa daquele filme do Sylvester Stalone que ele é caminhoneiro e lutador de queda-de-braço(!!!) e mexe o boné de lado quando a coisa fica séria; ficaria muito decepcionado se não!

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2 comentários

  1. Que legal. Nunca tinha pensado por esse ângulo. O teu primeiro parágrafo resume bem o tipo de atuação de cada um. Tem os que se transformam no personagem, e tem os que moldam o personagem para suas características. Dá pra notar bem qual é qual. Vou observar mais a partir de agora.

    E sobre a alma do ator que buscamos na hora de escrever, fico imaginando o que os irmãos Nolan viram em Heath Leadger quando o escalaram para o Coringa. Será que imaginaram o tamanho que ficaria o personagem em suas mãos? Não lembro de um trabalho tão marcante dele a ponto de ser o preterido, digamos assim. OK, Brokeback Mountain foi sensacional, mas não tinha muita coisa que o remetia a um vilão desse "naipe". Enfim, o cara foi monstro, com o perdão do trocadilho...

    Abraço!

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  2. O primeiro comentário (que exclui) é o mesmo comentário... mas com alguns erros de português. Não dá né...

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