BRAINSTORM: Narrativa na era digital

By Eduardo Albuquerque - 1/22/2015



Quem disse que a tecnologia digital veio pra facilitar a vida das pessoas com certeza não é roteirista. A gramática do cinema foi construída num mundo pré-século XXI, onde essa velocidade de informação simplesmente inexistia. Neste andamento pré-comunicação em tempo real que se construía tensões. Não mais! Hoje é impossível ignorar o mundo digital/online e suas interfaces (smartphones, internet etc.)

Até hoje TODOS os roteiros de longa-metragem que escrevi poderiam ter o drama do “Break into Act Three” solucionados através de uma simples ligação de celular para alertar ao perigo de algo ou pedir pra que a pessoa não pegue aquele avião e por aí vai... Ou seja: valeu, gênios da ciência! Legal a possibilidade de ligar do Brasil pra Ásia sem ter que agendar previamente com a telefonista etc. e tal, mas, por causa de vocês, agora tenho que pensar mais tempo em como tornar inevitável o herói fazer justiça com as próprias mãos... Nerds!

Brincadeiras à parte, o fundo de verdade da abertura do post de hoje é que o bom contador de histórias cria uma realidade nova/própria apoiada em signos existentes para que, através destes, o consumidor faça links com sua experiência particular e, assim, entenda o que a história está tentando convir e – tchan tchan tchan! - 100% do público movie-goer entende o conceito do mundo digital. Ou seja: você como roteirista – mais; como cineasta! - não pode ignorar isso.

Este é o tema do Brainstorm de hoje: como retratar o mundo digital dentro de uma narrativa audiovisual?

Entre golaços e ofertas duvidosas em seu canal no Vimeo, o filmmaker digital (ha!) Tony Zhou nos ofereceu esta interessante reflexão sobre o assunto que você pode conferir no vídeo abaixo.



O ponto conclusivo que ele faz é que ainda não fechamos em uma convenção universal de como retratar a linguagem digital em filmes e, como ele mesmo fala: isto é ótimo! Tem uma tela relativamente em branco para ser pintada aí.

Recentemente o sempre interessante cineasta Jason Reitman lançou “Men, Women & Children”, um filme que basicamente aborda o tema em si. Ele foi fundo, veja o trailer. E, no caso, não tinha como ser de outra forma: as linguagens diferentes são elementos primais da confusão comunicacional de signos e relacionamentos entre o mundo físico e o digital. Men, Women & Children é todinho sobre isso e, se Reitman é roteirista e diretor, isto não significa que quem é "apenas" roteirista não tem de se ligar nisso. Lembre-se; o trabalho do roteirista é escrever uma história visual! Ainda que as minúcias do design não devam aparecer no roteiro, a presença, descrição, timing e espírito do que aparece na tela é sim apontado pelo roteirista e não pelo diretor.

É inevitável; você vai se deparar mais cedo ou mais tarde com alguma oportunidade de retratar a linguagem digital; mesmo que por analogia. Como você faria? O que deste “problema” pode ser transformado em virtude de maneira a te ajudar a contar uma história ainda mais visualmente engajante?

Por hoje é só. Fica com essa coceira na cabeça aí!  
L8r! ;)

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5 comentários

  1. Reverendo,
    Antes de mais nada, parabéns pela iniciativa! Espero que você consiga fomentar a discussão e surgimento de novas ideias para aqueles que estão envolvidos nesta área.
    Pensei brevemente e elenquei algumas das "mazelas" decorrentes da nossa dependência cada vez maior por 'gadgets' que podem influir negativamente na chance de sucesso do "herói da história": smartphone com a bateria quase descarregada, falha na cobertura da rede e a latente distração advinda do uso de redes sociais e apps diversos.
    Sei que você e outros logo observarão que estes são lugares comuns para justificar a falta de comunicação do "nosso herói" mas com certeza já é um começo para ideias mais convincentes ou em outro sentido, mais mirabolantes.

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    1. Fala, Mister Portugal!
      Com certeza estes são bons recursos para escapar da "facilidade" da era de comunicação em tempo real e já usei alguns desses, mas esta parada toda, como a segunda parte do texto diz, é tipo a famosa "dor de cabeça que todo técnico quer ter" e deve ser vista como uma boa oportunidade de criar saídas inventivas e dramáticas.


      Mas nem me preocupo com isso, tenho certeza que muitos pensarão em mais outras - aliás sua idéia de "abraçar" a comunicação em tempo real com a sugestão da distração advinda do uso das redes sociais é genial. Nunca vi sendo usada pra ajudar neste momento. Vou roubar, inclusive! =P - o que mais me encanta no assunto, que me convida e ao brainstorm é a questão de COMO retratar a linguagem online na tela. Como transformar esta realidade extra-mundo físico em elemento para contar a história.

      Abração!

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  2. Maneírissimo, Dudu! Mas queria levantar uma questão: Será que as novas tecnologias atrapalham mais do que ajudam num roteiro? Eu, como um orgulhoso representante da Geração Y, tento ver de outra forma essa chegada do mundo digital nas histórias...

    Imagina que maneiro seria se o Kenan bolasse um super plano pelo iMessage, mas na hora de mandar pro Kel o auto-corretor mudasse uma das palavras, transformando completamente o objetivo deles?
    Ou se o Alf ganhasse um smartphone e marcasse um blind date no Tinder usando fotos do Jake?
    Fora os bons usos que tivemos dessa tecnologia em filmes mais recentes (“"What up, ‘Doug’? I'm gonna kill you, ‘Doug’.”)

    É claro que haverá momentos que todo esse “handicap tecnológico” vai te atrapalhar e você vai desejar nunca ter visto um smartphone na vida, mas também quem quer ter uma vida inteira baseada em iPhones? (oi, Vicente! Tudo bem?)

    No mais, vamos levando a vida, imitando a arte, e acompanhando essa nova realidade sci-fi. #vqv

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    1. De certo que não, Kim!
      As tecnologias só atrapalham o mau contador de história! Tudo - absolutamente TUDO! - pode ser usado como elemento dramático-narrativo para a sua história! É só você ser malandro.

      As premissas todas que você postou são um bom exemplo disso! Como falei no meu comentário para o Fábio, logo acima, o cerne deste Brainstorm é: já que é INEVITÁVEL a inserção do mundo online-digital-tecnológico em histórias contemporâneas... COMO você, contador de histórias, retrataria esse mundo/linguagem de forma visual?

      Sendo um mundo ainda pouco explorado, ainda há muita coisa pra "pioneirar" por aí...
      Que comece a corrida!

      Abração!

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  3. no seriado "house of cards' os personagens conversam bastante por mensagens, e a mensagem aparece na tela pra gente ler. bjs kiri !

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