BRAINSTORM: Ressignificações

By Eduardo Albuquerque - 2/05/2015




A complexidade desta prática está no nome: Audiovisual. São duas coisas diferentes unidas para criar uma outra nova e única parada. E quando você sai do plástico e parte para o narrativo; aí é que surgem ainda mais elementos pra você somar, usar e seqüenciar. No post de hoje, a dissecação da centelha criativa que pretendo trazer é algo como: “usando elementos próprios da linguagem audiovisual para estabelecer novas experiências”.

Separei dois exemplos para explorarmos usos ressignificativos de elementos audiovisuais:

1)...with a laugh track/Lugar errado

O primeiro exemplo eu vi no genial e extinto talk show “Space Ghost Coast to Coast” do Cartoon Network nos anos 90, onde, algumas vezes, eles exibiam desenhos antigos do Space Ghost... com claque! Eles pegavam um episódio e, em cima dele, colocavam risadas, aplausos (quando um personagem entrava, por exemplo) e “oooh” em momentos tocantes. Este direcionamento ao engraçado em cima de algo otherwise sem graça, tornava a coisa muito mais hilariante que muita coisa feita intencionalmente para ser engraçada.

Infelizmente o melhor que achei foi esse video com esse mala falando... Pula direto pra 1:10s

Pequena digressão: Apesar de, neste caso, a claque estar sendo usada quase como um comentário em cima dela mesmo, de forma "irônica", eu não sou como os brasileiros que comumente malham a claque, classificando-a como algo “menor”. Sinceramente, não tenho saco pra esse ponto de vista. É tão infundado que chega a ser burro. Oras, o cara faz um plano fechado em uma arma para direcionar a audiência ao suspense de sua possível engatilhada e isso tudo bem, mas direcionar a audiência a rir com a marcação de uma risada aí não; é cocô... É tão estúpido. O discurso narrativo é exatamente este; direcionar o público à algum lugar! Atribuíram à Hitchcock uma frase que dizia que, para ele, atores eram como gado. Ao saber disso, ele disse que não haviam sido exatamente estas as suas palavras e sim que “atores deveriam ser tratados como gado”. Pois eu acho que ele resolveu fazer essa retificação porque, pra ele, o verdadeiro gado é o público! Os storytellers audiovisuais devem ser pastores/flanelinhas que ficam conduzindo o espectador para onde eles devem ir e todos os recursos – montagem, trilha, timing do ator, CLAQUE! – tem seu valor e propósito para este fim e devem ser usados. Então relaxa, cineasta! Abrace a claque! Quando você estiver como espectador, não resista ser comandado para algum lugar. Não se sinta menor por estar sendo comandado. Um bom chefe o é pois sabe ver o que o funcionário sente; permita-se se surpreender e ser submisso ao invés de ficar second guessing em tempo real.

Ok, fim do desabafo- quer dizer, digressão.


2) A presença do ausente.

Em percepção musical você aprende que, na música, o silêncio é tão ou mais importante que o som. Só som é ruído; a ritmação intercalada do silêncio e do som fazem a mágica. Se no primeiro exemplo, o do Space Ghost, era a adição de um elemento alienígena àquele contexto, agora, neste segundo, é o contrário: subtração de um elemento inerente à ambientação. Sem a música, fica um longo som ambiente awkward, o que confere novos sentidos à cena. Novas intenções são dadas para os personagens.

Não dá vontade de se matar assistindo? SO awkward hahaha

Existem vários outros exemplos deste tipo de brincadeira com elementos narrativos - como esse aqui que é uma hipérbole do primeiro exemplo, onde colocam claque em momentos bastante inapropriados e esse cuja ausência da claque faz uma falsa ressignificação (ou seria super-reiteração, uma vez que a cena fica ainda mais engraçada?) – e eles costumam sempre render produtos que te intrigam e entretem. São perspicazes. Uma espécie de de piscadela do filmmaker, nivelando-se ao público, afinal ele também é consumidor daquele produto.

Mas ainda não vi um que o uso do elemento de forma resignificada fosse o fim em si mesmo. Não sei nem mesmo se isso que falei faz algum sentido. O mais perto que chegaram dessa noção tão fresca que não consigo nem explicá-la é o GENIAL “Too many Cooks” do Casper Kelly (que você TEM que ver. Sério.)

Mas a seção Brainstorm tá aí pra isso... às vezes eu só tenho a lenha, você só tem o álcool (seu alcoolatra) e o post, que é quase uma divagação, age como fricção... aí *boom*: fez-se o fogo!

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