Q&A

Q&A 03/04/2015

By Eduardo Albuquerque - 4/03/2015

Todas as sextas-feiras eu respondo perguntas enviadas pelos leitores do blog. Se quiser me mandar uma, acesse este link e aperte enviar (ou tente nos comentários!).

Vamos ao desta semana!

Oi meu irmão,

Você é um grande fã de UFC, não sei se seus leitores sabem, e sempre curtiu as histórias e tramas por trás das lutas. Queria saber se está acompanhando a série Embedded especial sobre a turnê mundial de promoção do UFC 189, e o que tem achado da construção da trama, dos personagens, e que lições positivas e negativas podemos tirar de como se roteirizar séries de reality/documentários.

Abração,
Adriano Caldas

Big Bro!

Pra quem não sabe, o Adriano, meu irmão, também trabalha com a palavra; ele é Padre.

Ha! To zoando. Ele é repórter de UFC e você pode acompanhar o seu excelente trabalho no site do GloboEsporte/Combate, no Twitter e às vezes até no Canal Combate.

Sim, é verdade, sou entusiasta do MMA desde que vi Shogun x Machida em 2009 e tenho assistido o Embedded do UFC 189 (Aldo x McGregor) e, cara... se normalmente eu acho uma bela de uma novelinha (sem demérito! quero dizer que é uma narrativa melodramática, cheia de twists e reversals inesperados!) este Embedded tem sido puro cinema.

Apesar de reconhecer o grande agitador cultural que foi, eu tenho uma grande pinimba com Glauber Rocha (e lá se vai a galera de cinema...) especificamente com a história de "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça". Quem cresce um pouco e se profissionaliza sabe o quão danosa é essa frase. Sim, é claro que os personagens ajudam (se o Connor McGregor fosse um Kenny Florian nada disso aconteceria), mas não é o suficiente ligar a câmera e ver o que acontece quando se coloca pessoas interessantes frente-a-frente. Há todo um trabalho muito interessante que, de tão bem feito, as pessoas acabam achando que tudo que os realizadores fizeram foi apertar rec e apontar a câmera. Mas passa muito longe disso. Vamos parar um pouco e imaginar a dificuldade do esforço de produção:

Ok, os personagens foram escolhidos por conta da luta. O primeiro trabalho é entendê-los e encontrar a trama. O holly grail é o cinturão do UFC, que será conquistado (cena de batalha) no UFC 189. Agora monta-se uma programação para ser a trajetória deles até lá (sim, considerando que esta série é um produto de divulgação do evento, é muito provável que a decisão tenha levado em consideração os filmmakers também). Fim? Só ligar a câmera? Não. É uma camera-crew para cada um dos lutadores e ambas tem que saber "o que" e "como" olhar para no final do dia, após o "real" se realizar, alguém editar ambas as filmagens de maneira que elas conversem e sejam uma coisa só. E mais, lembrando que é uma série com episódios que saíam às vezes em intervalos de 24 horas, você tem que ficar mega ultra ligado para, quase em tempo real, cobrir o "momentâneo" e ao mesmo tempo não se esquecer de construir um "arco" longo. Observar de onde vem a história, o que tá acontecendo agora e, somando as duas coisas, pra onde você pode levar sua trama.

Com tudo isso, é realmente insanamente notável a qualidade desta série. A coesão narrativa, o build up da trama... SO GOOD! Então, resumindo, nem dá pra falar muito porque a série ainda está acontecendo, né? Até acho que - até agora - cabe quase sem adaptação uma colagem pra virar longa-metragem, mas ainda temos a época de treinos deles e a semana da luta. Como diria a Budweiser, principal patrocinadora do UFC: Great times are coming. Assim esperamos.

Aqui o playlist da série pra quem ainda não viu:



Do que já temos para avaliar, acho que o que podemos tirar de lição é que não tem caô, mesmo em situações tão complexas, pode-se encontrar narrativas claras e contundentes. O caminho é ter a clareza de saber pra onde você quer ir, com a humildade de saber também deixar se levar sem forçar sua verdade à verdade. O documental me parece ser assim sempre. Claro que tem algum tipo de controle verticalizado na obra final. Você pesquisa, você cria algumas obstruções, regras do jogo, seleção de personagens, abalizações narrativas através da edição... Mas o verdadeiro trabalho é aquele feito dentro de você, contador de história. O trabalho que te deixa preparado para que - quando acontecer o que quer que possa acontecer - você saiba como retratar o que está diante de você.

Valeu pela pergunta! Curti!

Go Aldo!

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