Q&A

Q&A 29/05/2015

By Eduardo Albuquerque - 5/29/2015

Todas as sextas-feiras eu respondo perguntas enviadas pelos leitores do blog. Se quiser me mandar uma, acesse este link e aperte enviar (ou tente nos comentários!).

Vamos ao desta semana!


A pergunta é sobre trilha sonora. Como o roteirista participa da elaboração da mesma, escolha do repertório de fundo, melodia adequada para cada cena, etc.

Atenciosamente,
Carlos Muniz

Fala, Muniz!
Segunda semana seguida com pergunta sua; mais uma e você pede música!

Falando em música...

Os roteiristas participamos da trilha sonora, diegética ou não, somente quando a inserção da música tem motivação narrativa. Ou seja; quando uma música específica OU é parte da trama diegética de alguma forma OU é perfeitamente auxiliar ao storytelling.

Vamos exemplificar pra ficar mais fácil. Manja o ótimo "Silver lining's playbook" (O lado bom da vida, em português)? Nele, o personagem do Bradley Cooper, toda vez que ouve o clássico "My Cherie Amour" de Stevie Wonder, tem surtos psicóticos por conta de acontecimentos passados da sua vida. Esta é uma escolha de roteiro, de certo, e a escolha dos momentos onde a música entra e influi na trama - diegéticamente ou não - também. Faz parte da história a música, então ela tem que ser "chamada" pelo roteirista, que deve ser específico de qual música e em qual momento ela se insere para que entendamos o "clima" desta influência da música. Efetuando todas estas escolhas, o efeito narrativo é assombroso, pois, neste caso, é uma música linda de amor somada a uma reação tensa remetendo a traição. É pensado. Não pode ser qualquer música. O efeito não seria o mesmo se fosse "Who let the dogs out", concorda?

Mas esse é um exemplo até grande, que compõe muito da história. Às vezes é a mera escolha de uma música específica cuja letra faça algum "comentário" do que rola na tela. TV faz muito isso. Uma clipagem reunindo desfechos para vários personagens com uma música que dialogue com estas histórias. No meu filme,  "A esperança é a última que morre" (03 de Setembro nos cinemas!), há, por exemplo, um momento onde a Banda de Fanfarra da Polícia está ensaiando uma música. É a introdução do núcleo policial da trama. A escolha da música que eles tocam diz muito sobre eles. Nesta cena, o Major Leandro (vivido pelo excelente Thelmo Fernandes), líder da banda (e da polícia) até comenta sobre a música, rola umas piadinhas, mas mesmo que não houvesse essa interação, o apontamento de uma música por parte do roteirista já seria importante e justificado, pois, considerando que no mundo diegético esta música foi escolhida pelos personagens, ela diz muito sobre eles e você, como roteirista, não pode se omitir nestes momentos.* Você tem que dar todas as direções pra que todo mundo, em cima do que você iniciou, faça seu trabalho. Você não necessariamente escolhe o ator, mas descreve o tipo físico do personagem para o Casting ser feito. Você não escolhe as roupas do personagem, mas descreve o estilo dele para que a(o) Figurinista componha o guarda-roupa. E por aí vai...

Se não for fundamental para o storytelling, o roteirista não tem nada com isso. Você não escreve uma piada e no build up dela coloca no roteiro "música faz fuen fon fonnnn" pra marcar a graça. Isso é trabalho do diretor que, junto ao trilheiro faz marcações no filme montado pra ver onde podem auxiliar na construção de diversos sentimentos que o filme quer convencionar. Uma boa aplicação de trilha sonora incidental (original music) pode fazer toda a diferença no filme, mas é função do diretor, responsável por imprimir nosso imaginário em uma obra audiovisual. 

Obrigado pela oportunidade de escrever a palavra que mais curto do cinema: diegético!

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