Adversativos

By Eduardo Albuquerque - 8/15/2016




Tem mil manuais de roteiro por aí. Jeitos diferentes de analisar uma estrutura narrativa própria à filmes que vem sendo usada de forma mais ou menos igual há mais de um século. Porém, uma forma de olhar uma estrutura narrativa que nunca vi elaborada por aí é através do uso dos adversativos. "Mas, todavia, contudo, porém..."

Comece assim: pega o primeiro ponto da sua história. Começa com o seu protagonista ou o mundo no qual sua história se dará. O que for mais interessante entre os dois.

- Apesar de amar o que faz, FULANO é um péssimo quiroprata...
ou
- O mundo dos TAQUÍGRAFOS do Congresso nacional. Melhor trabalho. Mole e pagava bem, todos são amigos... 


MAS

- Um dia a sorte muda, quando FULANO está ocupado e coloca um pilão elétrico de café(!) pra fazer a massagem por ele, enquanto ele fala ao telefone. O "paciente" gosta muito mais e, pela primeira vez na vida, ele é elogiado. Ele resolve investir no pilão elétrico como massageador e vê sua base de clientes triplicar. Dentre eles uma REPORTER que ambiciona muito mais que seu cargo na revista "Quiropraxia e Companhia"...
ou
- tão logo os computadores modernos chegam, os TAQUÍGRAFOS sentem que os dias de ouro acabaram e uma competição interna começa a acontecer, pois há um medo grande de demissões. Um banho de sangue (metafórico) começa a acontecer e parece não haver mais ética entre os antigos colegas...

NO ENTANTO

- O sucesso chama atenção do BELTRANO, quiroprata incrível do outro lado da rua. Ele começa a ficar no pé de FULANO para descobrir seu segredo e pode ser um problema pro romance em potencial de FULANO com a REPORTER.  BELTRANO flagra FULANO usando o pilão numa cliente e o denuncia para a reporter, que se sente traída e publica na revista...
ou
- Quando o primeiro datilógrafo de computador chega à Brasília, os Taquígrafos entendem que se continuarem brigando entre si, serão extintos. Eles se unem, com todas as suas diferenças e começam a sabotá-lo...

PORÉM

- O tiro sai pela culatra, porque uma marca de eletrônicos acha genial a idéia e chama o FULANO para colaborar na criação do primeiro massageador elétrico da história, que ganha o mundo ajudando a relaxar os músculos das costas (e também os pélvicos, dependendo se o filme for Rated R ou não) e Fulano fica milionário e dá a chance que a REPORTER tanto queria, dando exclusividade pra ela, que faz sua primeira matéria importante com o famoso FULANO.
ou
- A união dura pouco e uma briga interna expõe toda a feiura que estava acontecendo. O chefe da área resolve que o grande problema é o humano em geral e resolve comprar um software de transcrição da China, porque taquígrafo ou datilógrafo; o humano é sempre falho. Sem ter o que fazer, os TAQUÍGRAFOS e o DATILÓGRAFO se mudam para Venezuela, onde este ramo ainda vai demorar muito para morrer.


hehehe

Faltam-me termos marqueteiros e outras coisinhas para parecer uma teoria de fato, mas o lance é que o nosso papel como roteirista é estar sempre mandando adversativos para a trajetória dos nossos personagens. Isso acho que não tem discussão. Sempre que você concluir uma ação macro, sempre que for pegar ar pra respirar... é hora de meter um adversativo pra sua história ganhar peso dramático. Aditivos são ótimos para improviso e extensão da história. Mas o que deixa o espectador no assento são os adversativos. Seja o filha da puta que está sempre falando pros seus personagens"peraí, peraí, não se anima não, porque depois do "e aí ele finalmente conseguiu o que queria" eu vou jogar um TODAVIA".

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