Q&A

Q&A 19/08/2016

By Eduardo Albuquerque - 8/19/2016

Todas as sextas-feiras eu respondo perguntas enviadas pelos leitores do blog. Se quiser me mandar uma, acesse este link e aperte enviar (ou tente nos comentários!).

Vamos ao desta semana!

A "ética" de specs também existe aqui no Brasil? Quero dizer, se escrevesse um roteiro para uma produtora, ela não poderia utilizar?



Pergunto minha dúvida por um motivo simples: escrevi algumas esquetes humorísticas e queria saber se posso mandar por aí ou se não funciona assim.



Te agradeço mais uma vez a atenção.
Fernando

Fala, Fernando!

Não existe. Há muito tempo falei sobre como seria interessante a existência de Development Execs aqui no Brasil. Sem eles, temos que fazer um caminho bem mais longo e orgânico de conhecer de alguma forma as pessoas do meio (seja fazendo algum trabalho super below the line, seja conhecendo num chopp) e conquistar a confiança pessoal delas para conseguir alguma oportunidade de mostrar o nosso potencial profissional.

A verdade é que mais e mais acredito que o principal para fazermos a leitura correta do mercado (em geral não apenas especificamente para roteiristas) é atentar pra quantidade de produções de filmes e conteúdos audiovisuais brasileiros em geral. É muito pequena pro tamanho do nosso país e sua população e especialmente pequena pro tamanho da riqueza cultural. No entanto adequada pro nosso limitado poder econômico. Com tão poucos produtos sendo produzidos (e, lambaimos os beços, são cada vez mais produtos!) é natural que os poucos que são, sejam "idéias" dos criativos que já estão inseridos no mercado.

Acho que a Conspiração Filmes é um bom exemplo para entendermos tudo isso melhor. A conspira surgiu basicamente da união de diversos diretores que tinham seus projetos, sua vontade de criar. Faziam publicidade pra pagar as contas e fazer caixa pra produzir suas "idéias". Para fazer isso de forma eficiente, contrataram pessoas de "business" pra fazer e administrar dinheiro. Virou uma empresa mesmo, com CEO e o escambau e, com isso, a lógica passou, lentamente, a mudar. Corta para muitos anos e muita história embaixo da ponte, a Conspiração Filmes tem uma demanda (pra se manter, pra preservar sua posição, pra ser relevante) maior que a capacidade e a pluralidade produtiva dos seus sócios/criadores. E olha que eram tipo 7 ou algo assim. Ela começa a produzir coisas de outros criadores com os quais ela cruza pelo caminho, a contratar mais gente e se estruturar como uma empresa de verdade. Se eles estão organizados para "ler" specs, eu não sei. Mas tudo isso só se deu por uma conjuntura de méritos próprios e "momento certo", já que o Brasil passou por um boom econômico que se viu refletido, inclusive, na área audiovisual, que foi se estuturando e se tornando rentável.

"Mas então o que falta pros specs rolarem?", você pergunta.

Tempo, eu acho. A situação econômica brasileira tem que continuar boa (e melhorar, se possível). Porque a equação tem que virar de lado e fechar a conta. Há cada vez mais criativos (roteiristas, diretores e "pessoas com idéias") surgindo das diversas faculdades no país. Temos que ter MAIS oportunidades/janelas de exibição de conteúdo para haver demanda que possa ser suplantada por pessoas além das já estabelecidas no mercado. Porque não conheço UMA produtora que esteja buscando "idéias" de roteiro. Eles tem as deles. Se não tiverem, veem com seus amigos criativos que eles conhecem se não tem nada que possam produzir juntos. A última coisa que farão é procurar "no escuro" por alguma idéia. Entende?

Por fim, para termos mais janelas de exibição, precisamos de mais público. Daí a mega importância de ir ao cinema ver um filme brasileiro. A boa notícia é que o público no cinema no Brasil cresce a cada ano há 9 anos, se não me engano. O número de salas, ainda muito pequeno, segue crescendo.

Tendo dito tudo isso: se são esquetes de humor, eu diria pra você arrumar uma galera pra filmar isso. É um custo barato. Através disso, você vai conhecendo mais gente, se inserindo... me parece mais plausível que mandar para um Porta dos Fundos, por exemplo, ler e falar "gostei disso! vamos fazer", já que, como a maioria, eles tem sua vida corrida e pessoas as quais eles já pagam para fazer isso pra eles. Mas tudo pode ser. O que não dá é pra ficar na dúvida e não fazer nada. Se joga que é fazendo que os resultados mudam. Parado é que não rola!

Abraço!

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2 comentários

  1. Legal. Ótima análise. E concordo contigo. As produtoras tem seus projetos, por quê realizar um projeto de terceiros? Já é difícil juntar grana para fazer os filmes, imagina então um filme cuja ideia não vem "de dentro". E também concordo com o Eduardo no seguinte: continua produzindo, escrevendo. Até porque, se você curte, você não vai conseguir parar. Alguma coisa você vai escrever. Isso tá no DNA. Uma vez ouvi do Marçal Aquino (escritor e roteirista, numa série criada acho que por um software de roteiros, o Story Touch, procura lá no google, é beeeem legal) que você não ensina ninguém a "ser" um escritor, roteirista. Ou você é (e tipo, tem ideias a toda hora para novas histórias e precisa colocar isso no papel), ou não é. Você precisa aprimorar a sua escrita, conhecer as técnicas para cada projeto, ler muito e continuar escrevendo. Mas se você é, você é. Daí para conseguir um espaço dentro do "meio", é outra história. Mas tenho pra mim uma coisa: um bom roteiro, bem escrito, cativante, vai achar seu caminho, de um jeito ou de outro. Creio nisso. Fiz alguns e mandei para várias produtoras. Muitos diziam que elas não lêem. Outros diziam que elas lêem as primeiras 5/10 páginas. O fato é que, de pelo menos três produtoras, recebi um feedback porque eles leram o roteiro por completo. E gostaram da maneira como escrevo. Isso garante alguma coisa? Não! Não garante nada. Mas ei! Keep walking. E cada um que lê, te dá um retorno. E o que você precisa é absorver como uma esponja esse retorno que recebe. Críticas ou elogios, absorva e melhore. Absorva o feedback, e melhore. Aos poucos você começa a entender o meio. E quem sabe, um dia, o seu roteiro seja aquele em que um produtor, um ator, um diretor esteja procurando apenas para melhorar o que ele já tem em mente. Sei lá. Keep working. Nunca pare de ler e escrever. E quem sabe daqui uns 10 anos, o Brasil já tenha um cinema mais "industrial" acontecendo. Who knows? Só não dá pra parar de escrever. Se você conseguir parar, não era pra você... (Lembro do filme Campo dos Sonhos, com o Costner pré Postman - Dudu não deve lembrar, é muito novo - "If you build it, they will come"). Who knows...

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    1. O que ele falou! ^^^^

      mas, ei! Eu tenho 31 (quase 32)! E ainda jogava baseball quando era criança, então claro que vi Campo dos Sonhos! E essa frase é muito verdade, sempre uso.

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