O Teste de Bechdel e a Mulher no cinema

By Eduardo Albuquerque - 3/17/2015




Você conhece o Teste de Bechdel?

Resumindo, ele pontua filmes de acordo com três quesitos:
  1. Deve ter pelo menos 2 mulheres. 
  2. Em algum momento do filme elas devem conversar uma com a outra. 
  3. Sobre algo que não seja um homem.

Bem básico, não?

No entanto, a quantidade de filmes que falham neste teste é mais comum do que se imagina.

Sim, é verdade que de um tempo para cá, as mulheres tem tido bastante tempo de tela no cinema brasileiro, que, aliás, crescentemente é produzido (desde a base até o topo da pirâmide) por mulheres. Grandes nomes como Marisa Leão, Lucia Murat, Patricia Andrade, Ingrid Guimarães, e outras mais anônimas estão, não por trás, mas no centro de grandes sucessos (crítica ou público) do nosso cinema.

Filmes como "De pernas pro ar" e "Muita calma nessa hora" possuíam protagonistas do sexo feminino e fizeram tanto sucesso que ganharam sequência. O filme do ano de maior sucesso até agora, "Loucas para casar", tal qual "SOS Mulheres ao mar" do ano passado, traz 3 mulheres como protagonistas. No entanto, como se vê, até mesmo pelos títulos, eles podem até passar no teste (e provavelmente o fazem) mas a temática toda do filme gira sob uma estrutura sexista, toda governada em direção à necessidade de instituições como o casamento e a relação de dependência afetiva da mulher ao homem etc.

Minha intenção não é debater estes filmes e nem sobre a diversidade dentro do mercado, pois sinto não ter muito nada prático que eu possa/queira fazer sobre isso. É o que é. No entanto, o convite à reflexão do Teste de Bechdel em relação ao SEU roteiro é muito interessante - e, acredito, mais efetiva - não só para fins de igualdade (também não me interessa muito a questão de justiça, pois sou roteirista e não juíz. Cabe a mim ser justo e não justiceiro), porém muito mais para fins criativos e (também "portanto") financeiros.

Deste lado financeiro, não sei o número, mas me parece óbvio que a mulher é parte preponderante do programa "ir ao cinema". Em geral, no Brasil, é a mãe que escolhe que o filho vá ao cinema naquele dia e não ao clube (e assim pague no mínimo 2 ingressos). É, no mínimo, para a mulher que boa parte dos homens escolhem qual filme vão ver afim de ter aquela experiência romântica no escurinho do cinema. É mongol ter que escrever isso, mas: a mulher é parte muito importante do público cinematográfico.

O site vocativ fez um levantamento dos filmes mais vistos de 2013 e os filmes que passaram no Teste de Bechdel apontaram lucro somado de 1.6 bilhão a mais em relação a soma dos que não passaram no teste. BILHÃO! Sendo que o retorno sobre o investimento (ROI) era sempre maior, pois a maioria destes filmes possuíam orçamento menor que os que não passavam no Teste.

E do lado criativo, é óbvio; o mundo real é assim. Mulheres não falam só sobre homens, sobre casar e família etc. Ficar de olho nisso, analisando como seu roteiro responde a estas três perguntas, pode te ajudar a ter uma história com vozes mais verossimelhantes e, por isso, bem escrita e interessante.

Para fins feministas (lembrando que feminismo = igualdade entre sexos e não superioridade ao sexo feminino), o Teste de Bechdel é falho, claro que é. Um filme pode passar neste teste e estar cheio de símbolos e mensagens sexistas. E o contrário também; falhar miseravelmente no Teste e não trazer nenhuma mensagem sexista. Mas para fins criativos e financeiros, me parece mais uma boa ferramenta de auto-análise do seu roteiro.

E você, o que acha do Teste de Bechdel? Deixe sua contribuição respeitosa aqui embaixo nos comentários. Só não esqueça de, após apertar "enviar", confirmar que não é um robô. Sacanagem com os robôs, tendo que se identificar. Direitos iguais pros robôs já!

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