Atenção emissoras para o top de 5 segundos

By Eduardo Albuquerque - 9/28/2015




Muita gente me perguntava "quando você vai falar sobre TV?" e eu nunca me apressava por vários motivos, mas principalmente porque na superfície o roteiro para TV é o mesmo para o cinema. A linguagem audiovisual televisiva nasceu de uma noite de sexo embriagado do Cinema com o Rádio, então se você dominar o roteiro de um longa é meio caminho andado pra TV.

No entanto, chegou a hora, até porque agora que meu longa "A esperança é a última que morre" já foi para os cinemas, a bola da vez é a primeira série do Porta dos Fundos para a FOX, "O Grande Gonzalez", na qual tive a honra de trabalhar no desenvolvimento e primeiros episódios sob o comando dos queridos e geniais Ian SBF e Gregório Duvivier fora toda a galera do PDF. É mais fácil de fazer as relações, tal qual fiz quando no primeiro semestre todo com o Esperança...

Vamos de forma homeopática - ou episódica, pra ficar no tema televisivo? - mostrando algumas pequenas especificidades. Mas nesse post inaugural, acho importante cobrir o que considero o fundamental da diferença da TV para o Cinema em termos de roteiro. Um ponto de partida para que meditemos antes de entrar nos específicos pois, de tal forma, quando o fizermos, teremos uma compreensão muito maior de onde estamos mergulhando. São duas coisas e uma é meio-irmã da outra:

  •  Consumo 
Sempre tive em minha mente que o cinema está muito mais próximo às artes plásticas. O consumidor deste produto teoricamente está prediposto a consumir aquela obra. De tal forma que veste um calçado, sai de sua casa, se locomove até o cinema, paga o ingresso e assiste a obra. Aliás, a proximidade com as artes plásticas não se dá só nesta questão de interesse e propósito, mas também no que diz respeito à preservação da "integridade" da obra como fora concebida pelo(s) seu(s) autor(es); a sala de cinema é isolada tanto acusticamente quanto fotograficamente para que o contraste de luz e som sejam adequados e você possa fazer uma imersão de 2 horas ou mais em outro mundo que não o seu.

Já a TV é um organismo mais vivo. Ela tá dentro de sua casa. Originalmente era um dos móveis, até! E se na minha casa é uma Sony de LCD widescreen, na casa da minha avó é uma Mitsubishi CRT com garantia até a Copa de 2002 e tem gente por aí que, pasmem!, ainda tem TV preto & branca... Tem gente que faz pipoca pra assistir embaixo do cobertor, tem gente que liga a TV e desliga a si mesmo, tem Dona de Casa que não vê nada, mas ouve tudo enquanto seus olhos e mãos preparam a janta. E não somente isso - e para mim o mais interessante - é uma obra de consumo contínuo. Quando acaba aquela 1 hora, tem mais 1 hora no dia seguinte ou na semana seguinte e por aí vai.

Estes (e outros) fatores acarretam em especificidades diversas na forma como se pensa e se dispõe um Roteiro de TV (e serão especificamente cobertos em diversos posts de agora em diante).

  • Produção 
Com tamanhas especificidades (que, repito, serão vistas em posts vindouros; fiquem ligados!) a produção destes roteiros tem de serem feitas de forma também específica. Se na telona na maioria das vezes há um roteirista apenas (um writing team, se tanto), na TV raramente há apenas um roteirista.

Para conseguir dar conta não só da carga horária da produção televisiva e sua linha de montagem "industrial", onde é necessário ter conteúdo audiovisual 24 horas por dia, bem como da carga intelectual deste trabalho, que - diferente do cinema, que é concebido para ter um curto tempo de consumo - é disposto no espaço-tempo e não fechado em si, criou-se a figura do "Showrunner" e o time de roteiristas. Eles se reunem na "sala dos roteiristas" - aha! agora você entende o nome deste site e vê que não é da boca pra fora quando falo que sou um cara mais TV que cinema... - e definem o que será escrito e fazem, cada sala à sua maneira, um trabalho autoral em conjunto em nome do programa.



De novo, esta é só uma introdução para pincelar o que vem por aí. Não fique tenso! É mais simples do que parece. Só quis dar o pontapé inicial e destacar o que acredito ser a gênese das especificidades do Roteiro televisivo, pois acredito que só descobrindo os "porquês" entendemos os "o quês".

Isso não significa que vou parar de falar sobre cinema!

Ainda tenho coisas pra falar, inclusive sobre "A esperança é a última que morre" e vocês podem continuar mandando Q&A sempre sobre isso. Serão assuntos concomitantes e complementares, pois, como disse no início, TV e Cinema andam paralelos, são família. Só achei importante fazer este "anúncio" aqui para que todo mundo fique ligado, avise os amigos e estejam preparados para uma nova aventura aqui na Sala dos Roteiristas logo após o top de 5 segundos... piiium... piiium...piiium... piiium... piiium...

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