Top 15 cinema brasileiro 2015

By Eduardo Albuquerque - 2/16/2016



No começo de janeiro, a ANCINE divulgou a lista dos filmes brasileiros mais assistidos no cinema em 2015 e a cineasta Anna Muylaert postou uma reflexão em seu facebook acerca dos 15 maiores sucessos do ano. Nela, a diretora de "Que horas ela volta?" focou na disparidade entre os filmes: dos 126 que chegaram aos cinemas, estes 15 - dos quais, com muito orgulho, meu primeiro longa "A esperança é a última que morre" faz parte (em 15º, escapando do rebaixamento e garantindo uma vaga na fase final da Copa do Brasil!) - concentram 94,5% dos ingressos vendidos. Os demais 111 filmes, somados, chegam a 1 milhão de ingressos.

Vou expandir a análise, pois acho que há mais para ser observado e apreendido por nós que trabalhamos nesse mercado e precisamos estar sempre de olho nos movimentos e preferências do público. Portanto, focarei nos 15 mais bem sucedidos, que ultrapassaram a marca de 100 mil espectadores e podem, grosso modo, colocados em perspectiva, serem considerados "sucessos".

Em um rápido jab, Muylaert chamou a atenção ao fato de 12 dos 15 filmes serem comédias; julgou que o seu "Que horas ela volta?", o thriller "Operações Especiais" e o infantil "Carrossel" eram os únicos que não eram "comédias/chanchadas" (como ela classificou). É uma leitura. No entanto, pobre (pra não dizer preconceituosa). "Entre abelhas", de Ian SBF, apesar de estrelado pelo reconhecido comediante Fabio Porchat, apesar de seus momentos engraçados... não sei se considero uma comédia. É uma temática séria (até desesperadora/existencial). Não é porque o filme é engraçado que é uma comédia. Fosse assim, "Que horas ela volta?" (e "Carrossel", por que não?) também poderiam ser comédia; não? Julgo que humor tem de haver em toda narrativa. É um conduíte para o desarme do espectador e a sedução ao embarque na história. E, por fim, tanto "Entrando numa roubada" quanto o meu próprio filme "A esperança é a última que morre", não se tratam de filmes do riso pelo riso. O primeiro traz o prefixo de "heist" e o segundo de "investigação". Acho que no caso destes dois filmes - que se talvez não tivessem estreado no mesmo fim de semana poderiam ter conquistado até mais público - apesar de serem assumidamente comédias, buscaram novos elementos para diversificar esta procura pelo riso, com uma história sequencial, de causa e consequência, com cuidados de cinematografia, caracterização... enfim; filmes. De comédia. Mas filmes. Então, em questão de gênero cinematográfico, sim; as comédias ainda dominam (o que não é bom nem ruim, apenas o é), mas há algo a ser comemorado: dentro da própria comédia, mudanças estão acontecendo e o público está acompanhando; o gosto está se refinando e diversificando para além da "chanchada" do riso pelo riso.

Comercialmente, ainda há a evidência do poderio da Globo Filmes; este sim parece ser o diferencial. Dos 15 filmes, 9 tiveram o aporte midiático das organizações Globo em seus veículos. Mas o que talvez seja mais interessante ainda de notar é a quantidade de filmes que fazem parte de uma propriedade intelectual já existente. São 6 de 15, sendo 4 continuações de outros filmes e 2 adaptações de programas de TV para o cinema. Mais ainda: dos 5 mais assistidos, os que passaram a marca de 1 milhão, apenas 1 (ainda que o 1º da lista) é um filme "original"; o resto é tudo parte de uma propriedade intelectual já estabelecida. Podemos dizer que, neste sentido, o cinema brasileiro está acompanhando o cinema americano, que também tem estado escasso em materiais "originais".

Outra boa notícia é a diversidade sexual em tela. Dos 15 filmes, 6 traziam mulheres como protagonistas, sendo que "Meu passado me Condena 2", "Qualquer Gato Vira-lata 2" e "Divã a 2" são buddy movies onde o protagonismo está dividido entre um casal homem e mulher, então, podemos falar que apenas 5 eram centrados exclusivamente em homens (já que "Carrossel" é um filme infantil, de ensemble cast, logo não se aplica). 6 mulheres, 5 homens, 3 divididos e 1 não se aplica: as mulheres estão até mais representadas que os homens! Olha o femismo, cinema brasileiro! Queremos feminismo; igualdade dos sexos! =P

Brincadeiras à parte, se passam no Teste de Bechdel é outra história ("A esperança..." passa! Com várias estrelinhas!)... Vi muitos desses filmes e a composição dos personagens femininos (mesmo os protagonistas) infelizmente ainda peca muito no realismo e na igualdade de gêneros sexuais. Ou talvez seja o reflexo da realidade conservadora do nosso país... A questão racial e LGBT ainda requer muito da nossa atenção, reflexão e até um pouco de esforço.

Ainda parte desta mesma questão, observei o gênero sexual na posição de Direção e o resultado talvez explique o que falei no parágrafo acima. Foram 4 filmes dirigidos por mulheres entre os 15. Sendo que são apenas 3 diretoras, já que Cris D'Amato (assim como Roberto Santucci, o diretor mais assistido do Brasil há anos, com léguas de distância pra qualquer desafiante) aparece na lista com dois filmes; "SOS Mulheres ao Mar 2" e "Linda de Morrer". Não avaliei apenas a Direção porque "no cinema o Diretor é mais prestigiado" (apesar de ser uma verdade) e sim porque a categoria "Roteiro" ficaria impossível avaliar, uma vez que infelizmente ela é sempre bagunçada aqui no Brasil, com inúmeros nomes no crédito. Além de inviável, seria injusto, pois não sei do processo de vários destes filmes; como avaliar quem era o roteirista principal? Temos que dar um jeito nisso, Roteiristas. Juntos! Unificação e arbitração independente de crédito de roteiro!

Por fim, não botei na tabela porque fica meio subjetivo, mas acho interessante pegar cada um dos filmes e tentar classificar a temática deles. Com isso, você pode ter uma idéia dos assuntos que fizeram sucesso no ano. Na minha métrica houve vários repetecos de temáticas, mesmo em gêneros diferentes ("Trânsito Social", por exemplo, para "Vai que Cola" e "Que horas ela volta?").

O que você achou dessa lista? Que outra análise pode ser feita olhando para estes filmes? Quantos desses você assistiu no cinema? Roteirista: esses são os expoentes do ano no nosso mercado de trabalho; deixe seu comentário aqui embaixo, pois é importante pensarmos sobre eles.

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7 comentários

  1. Muito interessante essa analise, Eduardo! Achei bacana pensar também quem eram estes atores. Cheguei a conclusão que 2015 foi o ano de Cleo Pires (Operações Especiais e QGVL2), Dani Calabresa e Danton Mello (Superpai e o seu Esperança é a última que more - que vi no NetNow agora e adore!), os únicos que apareceram duas vezes na lista. Será que 2016 vai seguir essa tendência? Já teve mais um com o Danton (Vai que dá certo 2).

    Parabéns pelo site e pelo sucesso do filme!

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  2. Fiquei curioso com a coisa do "Trânsito Social" pra Que horas ela Volta e Vai que cola... quais outras temáticas você identificou pra cada filme?

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    1. Loucas pra casar - Casamento
      Vai que cola - Trânsito Social
      Meu passado me condena 2 - Vida a 2
      Carrossel - Crianças
      SOS Mulheres ao Mar - Homens
      Linda de morrer - Mortalidade
      Qualquer gato vira-lata - Homens
      Que horas ela volta - Trânsito Social
      Bem casados - Casamento
      Superpai - Paternidade
      Entre Abelhas - Existência
      Operações Especiais - Justiça
      Divã a 2 - Vida a 2
      Entrando numa roubada - Sonhos
      A esperança é a última que morre - Sonhos


      Lembrando: eu nem vi todos os filmes; algumas destas classificações são baseadas no trailer + conhecimento do que se trata o plot etc., então essa classificação é muito pessoal. Pouco pragmática. O ideal é cada um ver e fazer a sua!

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    2. SOS Mulheres ao Mar - Homens? Interessante...

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  3. Buenas.

    Então, acho que o cinema está amadurecendo no sentido "boas histórias". A comédia por comédia, vai ficar prá trás. Achei demais o Entre Abelhas, e acho que é bem trágico mesmo. Sincero. Tem uma temática atual e verdadeira. Não vi os outros (além do seu), pela questão de tempo mesmo. Mas o que se percebe da lista é realmente o poderio da Globo (incluindo aí distribuição, divulgação e cast). Enfim, acho que tem um gap aí de boas histórias a serem contadas (em formato Drama, por exemplo), mas que não envolvam apenas a eterna briga de classes. O Lobo Atrás da Porta não está aí, e é um P. filme! (ou não está porque é de 2014?.. não sei ao certo)

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    1. "O Lobo Atrás da Porta" é de 2013, Zas!

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    2. Pois é, tô bem atualizado...
      Vi Sicario dia desses. Lembrei de ti. O roteirista é um ator americano. Acho que é o primeiro roteiro filmado do cara. Filmão. Baita trilha sonora.

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