Q&A

Q&A 01/04/2016

By Eduardo Albuquerque - 4/01/2016

Todas as sextas-feiras eu respondo perguntas enviadas pelos leitores do blog. Se quiser me mandar uma, acesse este link e aperte enviar (ou tente nos comentários!).

Vamos ao desta semana!

Oi, Eduardo. Você conhece algum curso, grupo ou oficina para roteiristas de humor aqui em São Paulo-SP? Quero ter mais contato com quem é da área. O que sugere?

Obrigada.
Léa

Oi, Léa
Já ouviu falar sobre a "Oficina de humor Daniel Azulay"?

Brincadeira. Piada antiga e interna minha.

Vixe... Como posso te ajudar? Além de eu ser do Rio de Janeiro e não de São Paulo, também não sou exatamente do humor... Apesar de ter trabalhado com bastante coisa de humor - meu primeiro longa "A esperança é a última que morre", a primeira série do Porta dos Fundos para a FOX "O Grande Gonzalez" e outras coisas - meio que existe uma diferença entre "do" humor e "de" humor, saca?

Mas, de fora, eu consigo ver que São Paulo tem uma grande vantagem pra quem se interessa por humor que é a cena BEM forte de Stand-Up Comedy. Tal qual eu aconselho os roteiristas a tentarem se enturmar, se conhecer, frequentar o lugar onde outros profissionais do audiovisual (roteiristas e não-roteiristas) costumam ir pra começar a ir criando uma rede de contatos etc., eu falaria o mesmo pra você. Frequente as casas de Stand-up comedy, as peças de humor, os grupos de teatro... puxe papo com os artistas, pergunte a eles qual é a boa pra começar. Os lugares pra frequentar, oficinas etc. Eles vão te ajudar, de certo.

Mas onde ir exatamente?

Bom, como explicado acima, apesar de conhecer e adorar muita gente, não sou a melhor pessoa para falar nada mais profundo sobre a cena de humor de São Paulo. Então, resolvi pedir ajuda ao meu amigo que, além de paulista, é um dos maiores nomes do stand-up comedy atual: Victor Sarro. E ele deu excelentes dicas! Fala, Victor!

"Fala, Edu!
Hoje, no Stand-up, o principal é: observe o que já está rolando no mercado! Pra não fazer textos iguais ao de alguém. A segunda dica mais importante é respeitar o tempo que te dão no palco. Se for 3 minutos, não faça 5. 3 é 3!
Em São Paulo tem alguns lugares que abrem pra "Open Mic" e você pode ir lá de graça testar seu material (e de repente ser "visto" por algum produtor etc.) O bar Bervely Hills é um deles e é bem legal. Por fim, fundamental: ser engraçado e corajoso! Texto autoral sempre!"

Se você está achando tudo muito etéreo e muito dependente do acaso, deixa eu te contar a história do próprio Victor, Léa.

O Victor trabalhava no Habib's de São Bernardo (se não me engano... se não era SBdC era outra cidade satélite de São Paulo) e, um dia, viu que ia ter show de Stand-up do Danilo Gentili, Rafinha Bastos e outra galera no teatro do shopping onde ficava o Habib's. Resolveu ir, riu pra caramba, se divertiu e se apaixonou. Passou a ir ao máximo de shows que conseguia. Ia até São Paulo, se necessário. Uma vez, não tinha dinheiro pra condução, então foi ANDANDANDO (são 6 horas de caminhada, disse-me ele uma vez) até São Paulo. Deu seus pulos; uma vez ligou pra polícia dizendo que tinha sido assaltado e pediu carona na viatura de volta à sua cidade, noutra pegou um taxi e saltou em frente à favela e deu calote correndo pro meio do morro. Foi conhecendo as pessoas, conversando, percebendo/anotando tudo que funcionava e o que não funcionava. Onde e por quê riam mais, onde e por quê riam menos. Começou a bolar seu próprio material. Uma vez, num desses shows, comentou com o performer da noite, Bruno Motta, que era seu aniversário e o sonho dele era fazer Stand-Up. Bruno falou pra ele subir no palco e fazer 3 minutinhos. Ele subiu e arrebentou. Quase como um presente de parabéns, os produtores da noite choraram 500 reais na mão de Victor, que ganhava 50 por dia no Habib's. Ali ele decidiu que ia fazer isso da vida e meteu a cara. No mesmo mês já conseguiu fazer 5 minutos num show da Nanny People e o resto é uma sucessão de meter a cara, ser uma pessoa legal e agradável e justa com os amigos ( e ter talento, é claro) que o levaram a integrar o mais longevo e precursor grupo de Stand-up, o "Comédia em Pé", ganhar o prêmio "Mais novo talento do Humor" (do programa "Tudo é possível" da Record), integrar o elenco do "Encontro com Fátima Bernardes", "Esquenta" e "Altas Horas" na TV Globo, ser redator do "Divertics" e do "Tomara que caia" entre outras várias coisas, fora os shows de stand-up Brasil afora (ele me mandou essa mensagem do Japão, onde faz turnê no momento).

Puta história de Cinderella, né? Há mais ou menos 6 anos ele era caixa no Habib's sem dinheiro pra ir até a cidade vizinha ver um show de comédia e agora está no Japão fazendo o seu próprio show e juntando seu pé de meia.

Dou exemplo disso não como norma. Para o bem e para o mal. Cada um tem sua história. Mas tanto o que passou por mil doideiras quanto o que teve um trajeto mais suave; todo mundo que chega a algum lugar chega porque deu um passo. Ninguém chega por ter sido empurrado, na inércia. Então você já tá em movimento mandando essa pergunta mas agora é hora de ir até os lugares, conversar ao vivo, ler muito e ver muito pra botar sua capacidade analítica pra funcionar (porque humor é 90% análise e 10% sentimento), refinar, refinar, refinar e botar a cara, testar. Você só é engraçado se fizer alguém rir. E, por isso, o caminho do stand-up é ótimo pra esses dois espectros: saber, antes de qualquer coisa, se você tem capacidade de fazer isso (testar se você sabe ser engraçado) e conhecer pessoas que podem te ajudar a chegar lá (mesmo que não seja na capacidade de performer e sim de redatora).

Uma última dica: to lendo a biografia do Steve Martin (chama-se "Born Standing Up"), um dos maiores comediantes de todos os tempos. É a história da vida dele, mas é surpreendente como tem muita lição de humor dentro dela. Vale o confere!

Espero que tenha se inspirado!

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