You can't go home again

By Eduardo Albuquerque - 1/12/2015


Tá com dificuldade de fazer aquela parte final entre o momento que o protagonista perde tudo e começa a dar a reviravolta definitiva? Aquele momento derradeiro do segundo ato que leva pro terceiro; o protagonista em seu pior momento, sem esperança, num abismo, a “dark night of the soul”...

Tem um truque muito bom que volta e meia uso, que é pegar o que quer que você construiu no "Mundo Comum" do seu protagonista no Ato 1 e botar seu protagonista de novo naquela situação; só que desta vez nada funciona (ou tudo funciona pior!) naquele mundo.

No filme "Wedding Crashers" (2005) esse truque é muito bem aplicado quando o personagem do Owen Wilson tem seu segredo revelado e, com isso, perde sua amizade com Vince Vaughn e seu romance com Rachel McAdams. Os roteiristas o fazem voltar ao começo do filme, onde sua “parada” era penetrar casamentos. Ele - antes a alegria da festa - agora está deprimido, bebe além da conta e estraga a cerimônia falando paras as crianças que não existe amor (nem amizade)...

Isso faz muito sentido e ajuda todo mundo a reparar o dilema pelo qual seu protagonista tem de estar passando à essa altura do roteiro, que é o de aceitar a realidade que se apresenta e tentar fazer o melhor dela. Deixar de se auto-flagelar e ir à luta. Situando em roteirês: nesta etapa da história, o protagonista acabou de sofrer um trauma (All is Lost) que o danifica e o faz perder fé no mundo do Ato 2 (Fun and Games). O mundo diferente que lhe foi oferecido/que ele conquistou, agora lhe foi tirado. É natural - ainda que infantil (o que é bom, pois aqui ele tem de estar vulnerável mesmo) - que o protagonista queira voltar para a situação anterior a essa, onde, apesar de não ser tão boa quanto a do Fun and Games, com certeza é melhor do que a realidade que ele, no momento, está tentando, tolamente, evitar.

Ao colocá-lo naquele mundo de novo, e dessa vez falhando, você demonstra que o protagonista “sabe demais” para conseguir voltar a viver aquela vida. Cenas espelhadas sempre nos ajudam a mostrar desenvolvimento de personagem de maneira inteligente. Quando você chegar à esse momento do roteiro, onde precisa deixar claro que o mundo mudou mas seu personagem ainda não deu o braço a torcer, ainda não ouviu palavras/viu algo que o colocará no caminho da mudança definitiva, não se furte a espelhar não só uma cena, mas a essência do Setup/Mundo Comum do seu filme. Coloque seu personagem no mundo que antes lhe era (quase) suficiente e o faça-o mais deprimido; nem aquilo mais funciona pra ele.

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