To Spec or not to Spec

By Eduardo Albuquerque - 7/20/2015


 
Essa é a questão. E que questão complicada...

Vamos então do simples pro difícil: se o spec script* é de uma idéia original sua, então: sim, você deveria. E se você não ta fazendo isso nesse exato momento, que seja porque você está muito ocupado com o seu roteiro comissionado!

A coisa fica complicada e divide opiniões quando o spec é pedido de um produtor, e quando eu falo produtor não necessariamente quero dizer um Produtor; ele pode ser um Diretor, um Ator ou qualquer outro player - importante ou não – que esteja disposto a buscar viabilizar o roteiro e torná-lo um filme ou série etc.

Tem quem ache que vale a pena se o produtor for alguém “consolidado” ou “de nome”, que pode agregar ao seu currículo, quiçá ao seus conhecimentos. Independente da viabilização ou não do roteiro, de repente mais pra frente surge um outro trabalho (este comissionado) e ele lembra de você. Também acrescentaria que vale a pena se o projeto for interessante e te causar aquela coceirinha na mão pra escrever, afinal, todos sabem, coceira na mão = dinheiro e no mundo do roteiro também: se a premissa está te levando a muitos lugares, significa que tem algo aí; quem sabe esse investimento não se transforma num puta hit? Cai dentro!

No entanto, também há de ser pragmático, afinal de contas, como já falado, isso não é seu sonho e sim seu trabalho. Minha experiência é de um track record de 0% de specs viabilizados quando projetos de outras pessoas. Zero. Nenhum. E aí fico pensando; ora, se um produtor não consegue comissionar nem o seu trabalho, que apesar de ser vital é sempre um dos mais baratos analisando o custo-benefício (o trabalho de um roteirista dificilmente passará de 5% do orçamento total do filme)... será que ele tem punch pra viabilizar o projeto at all? Ou então, será que ele tem a paixão e a esperança de fato depositadas neste projeto (e em você) ou é só mais um, afinal – e aí é Produtor com P mesmo – a natureza dessa posição é ter uma porrada de projeto em sua “cesta” e ir girando pelos canais, distribuidores, editais etc. Eles jogam na parede e vêem o que cola... Nada? Nem um pagamento simbólico decente para o “risco”? Essa é a única coisa que você tem pra vender e independente de viabilizado ou não, o seu trabalho foi feito! Parafraseando a Beyonce, que sabe das coisas: If you like it, then you shoulda put a ring on it.

Enfim, se você vê o spec script como uma “porta de entrada” no mercado, acho que a boa é que seja com um roteiro original seu. Meu primeiro longa produzido “A esperança é a última que morre”, uma idéia original minha e do Calvito (Leal, diretor do filme), foi escrito no risco. E, durante, quando conciliava a feitura do roteiro, minha namorada e meu emprego diurno (com mídias sociais e depois no Fluminense Football Club, como coordenador audiovisual), eu sempre pensava “bom, se não der em nada (i) pelo menos desenvolvi mais minha habilidade como roteirista sem (muita) pressão e (ii) o fiz em algo que, dando certo, vai me render mais e não foi em nenhum momento desprazeroso”.

Acho, então, que é uma questão de caso a caso. A natureza de se especular é esta; baseada em resultados incertos. No fim das contas, parte de ser maduro não é saber quando é bom e quando é ruim tomar no cu?

*Pra quem não sabe, spec script é um roteiro do qual você só receberá remuneração pelos serviços prestados, quando, ou melhor, caso ele seja viabilizado. Ou seja, você escreve o roteiro na “especulação”, “de graça”, encarando-o como um investimento, pois, quando ele for viabilizado, você ganhará a quantia combinada com o produtor. Também chamam de “trabalhar/escrever no risco”.

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